CANOA OPARÁ

NASCEU UMA CANOA NO RIO SÃO FRANCISCO

 

BANCO 1 – O NOME DELA É OPARÁ.

Uma homenagem aos primeiros habitantes destas águas, os povos indígenas, o significado não poderia ser mais belo, RIO-MAR.

Como naveguei até aqui:
Talvez seja amalgama canoero de minhas rianças e maranças…
Desde as primeiras memorias, bem miúdo na Barra da Lagoa, na Ilha de Santa Catarina, me apoiava na proa das belas Canoas Bordadas do meu saudoso Avô Damião.
Canoas de criação consorciada, primeiro o nascimento indígena, adaptada para o mar pelos imigrantes açorianos, dos quais descendo.
Canoas que no inverno, se abarrotavam de tainhas, traziam cem´s mil´s tainhas em várias viagens, entre a Prainha e o rio.

As pequenas Canoas na Lagoa, pescando, remando em pé e desequilibrando Mestre Ênio, velejando com a Canoa do Tio Nonô, eram brincadeiras, as vezes chegava com um alimento na mesa.

Certa vez, lá pelo verão de 1987, seu Altamiro da Costa da Lagoa em Florianópolis, emprestou uma Canoa, para em quatro amigos, viéssemos de nordeste até a Lagoa.
Quando vimos a Canoa, mal cabíamos dois. A solução foi colocar bambus como um estabilizador lateral, ideia tirada de filmes havaianos.
Sim, muitas brigas depois, chegamos quase em casa, na Ponta das Almas, a Canoa foi ao fundo na parte rasa da Lagoa, ela voltou pra casa molhada e salva, e nós molhados e com uma bela história pra contar.
No ano 2000, por influência das Canoas do Avô, criei o Festival de Embarcações a Remo de Bombinhas, um desfile de belas relíquias Navegantes.
Surge em uma Travessia na Praia do Forte em Floripa, o movimento de Canoas Havaianas no sul do Brasil, quis o destino que meus chegados Alexey e Alemão espalhassem Canoas pela minha Lagoa e cidade.
Em 2021 e 2022 tive a grande oportunidade de remar os Botes Baleeiros na Ilha do Faial nos Açores em Portugal.

BANCO 2 – ENCANTAMENTO

Em 2015 fui ACOMETIDO do encantamento do Velho Chico, não é um vírus nem uma bactéria, mas NÃO TEM CURA.
Conheci a Canoa de Tolda, barco histórico de influência naval holandesa, conheci o Capitão América,
o barco avuador de Mestre Breno.
Em 2017 junto com o destemido e rustico Bruno, irmão do Breno a bordo do Capitão América, descemos até Pão de Açúcar,
foi espetacular e terrível, minhas costas não deixaram chegar a Foz do Rio.

Faltava um ingrediente, até que em agosto de 2022, Isaac, Mestre Nadador do Velho Chico me mostrou o vídeo das Canoas de Pano (vela) do Velho Chico.

É ESSA A CANOA QUE FOI O ÚLTIMO ELEMENTO INSPIRADOR.
Dos conceituados Carpinteiros Helder e Denivan, de Pão de Açúcar, Alagoas,
recebi a confirmação, sim nós podemos fazer uma Canoa pra remar.
As Canoas de hoje são a motor ou a Pano.
Condição, ser uma Canoa com 100% de características Velhochiquianas.
A única grande diferença seria um estabilizador lateral, não usado por Canoas Brasileiras.

BANCO 3 – A CANOA FOI PRA ÁGUA

O dia, sem escolher foi 2 de fevereiro, tão representativo para uma grande parte dos brasileiros,
homenagem a duas grandes figuras femininas que representam o mar.
Sim, ela flutua, navega muito bem, no remo e na vela.
Dia 7 de fevereiro desembarca em Maceió um bando, no susto, dois cascudos e quatro cascudas, escolhidos a dedo,
ou a merecimento ou a amizade, ou a vontade de descobrir o mundo.
Helder, o mesmo Carpinteiro, uma lista de habilidades depois, com sua Van Cangaceira,
corta o Sertão até Piranhas nas margens do Velho Chico.
A principal viajante era a MUMIA, sim, uma semelhança extrema,
depois de uma bela embalagem com remos e coletes rumo ao Velho Chico.
Chegamos todos bem, inclusive a múmia.
Exceto um de nossos componente que após uma saborosíssima farofa sertaneja em São Miguel dos Campos, vazou o retentor…(caganeira básica).

Me emocionei quando vi a Canoa, trazida pelo Breno de Pão de Açúcar, bailando apoitada no Porto de Piranhas, se refrescando com os raios da Lua Cheia Sertaneja.

BANCO 4 – O BATISMO

Chegou o dia, 8 de fevereiro de 2023, faleceu a múmia, como uma borboleta, entregou seu sarcófago,
a eterna vida no rio de remos e coletes.
Isaac, mais que simbólico, trouxe a Canoa rebocada nas forças dos braços nadantes.

Iniciava a primeira etapa de uma Viagem Canoeira, Velho Chico a Jusante.
Tripulação feliz, um emocionado discurso do Helder como um pastor,
pediu a proteção do seu divino,
cada um de nós em silencio só a escutar o latir de nossos corações e o farfalhar das aguas descendentes Velhochiquianas.

BANCO 5 – PARTIMOS

Nossas primeiras remadas foram…
UM DESASTRE!
Parecia o globo, cada em um fuso rematório.
Como o bando do Cangaceiro do Futuro (série netflix), cada com suas histórias de vida, historias rematórias, poucas horas…
Qualquer outro corpo d´água não perdoaria, mas o Velho Chico com sua santa complacência, ACOLHE.
Quem olhasse de longe, facilmente diria, não chega a Entremontes, a 12 km de Piranhas….
A harmonia e a força da equipe, talvez bem comandada, amparada por Isaac e suas fortes remadas,
chegamos ao Restaurante Angicos, antes do Catamaram de Célio,
uma verdadeira explosão de velocidade…
Henrique nos recebeu com O MELHOR SUCO DE MELANCIA DO MUNDO!
A primeira grande conquista.
Henrique, quando soube de nosso objetivo de chegar na Ilha do Ferro as 14h27m37s, duvidou,
pelo vento fózoeste que soprava forte a Montante.
Célio não teve passeio, por isso chegamos primeiro…

Do nada aparece com sua avuante avoadeira, Comandante Sérgio que nos retratou com belas imagens,
nos trouxe mangas maduras.
As imagens e as mangarosas amarelas, eram para esconder e adocicar o gosto cruel de nos extrair seu irmão Isaac,
nos tirou muito mais que umsetiávos, era pelo menos trêseteávos de nossa força, inspiração e alegria.
A vida não é uma linha reta, é sim um mar ventoso e claudicante.
O desanimo da perda, se transforma em força a mais para os destemidos e remidos remantes.
Entremontes fica na popa, Cajueiro passa espremido pela correnteza, a Curva do Saco, foi cortada, ficou sem saco,
substituída por uma linha reta, com pedras bem vistas nas profundezas rasas aguas esmeraldinas esclareadas do Rio São Francisco.
Curralinho, mesmo de longe, ficou belo, parece uma moldura descrita por Ariano Suassuna.
Parada para manga andante, obrigado Sérgio, está perdoado,
da manga rosa quero o gosto e o sumo…
Exatamente as 13h56m, aportamos cantando remadas na vós da nossa Elba, Aglair.

Sim Henrique, me assustei com tua previsão, mas o bando é Catingueiro e Rieiro.

 

BANCO 6 – ILHA DO FERRO

A Ilha do Ferro nos recebeu com o rio cobrindo o campo de futebol, as traves afogadas, aparecendo só o ninho da coruja desalojada.
O banquete da Vana estava posto, galinha de capoeira rasteirinha e a cocada deixaram forrados os buchos que de tanta forme, dava pra ver o fundo das calças abrindo a boca …
O chá batizado de catingueirinha dessa vez não foi precisado, deixamos pro bando das Colô que vem feroz de Recife…

SÓ FALTAM 38,31 LÉGUAS…

BANCO 7
A HISTÓRIA DE CADA UM DE NÓS…

Marcos Pinheiro