História do Fofinho

História do Fofinho


Ele estava dentro de um cesto de fios de metal. Fofinho e seus dois irmão estavam sendo doados. Os dois irmão marrons, e o Fofinho pretinho com umas manchinhas milimetricamente douradas, que faziam um desenho perfeito entre seu rosto e peito. Os dois irmãos estavam bem machucados, apesar disso, fazendo muita bagunça, pulando no cesto, e o Fofinho quietinho, triste no fundo do cesto.

Minha irmã me disse:
– Olha Léia que cachorrinho lindo para adotar!

Lá em casa, meu marido e filho estavam falando em querer adotar um cachorro, mas queriam um cachorro pequeno. Eu na verdade, não queria cachorro, pois isso me fazia lembrar o Arigo, um pastor alemão capa preta que foi para a nossa casa quando eu tinha uns 10 anos. Ele foi meu grande amigo em momentos bem difíceis durante a infância e adolescência. Quando já morava fora de casa, recebi um telefonema de minha irmã: “Vem aqui pois o Arigo só vai pro céu quando te ver.! Quando cheguei, chamei o nome dele. Abriu os olhos com muita dificuldade, me olhou, com um olhar triste de quem precisa partir, mas lá no fundo, feliz por ver aquela criança que ele tanto tentou proteger durante tantos anos. No outro dia ele foi, ele carregou nesta vida um corpo muito gigante, do tamanho da doçura que ele carregava, mesmo sendo um cachorro preparado para atacar. Carreguei aquela forte dor da perda durante muitos anos..

Estávamos em um supermercado, iríamos fazer comprar, e o Fofinho cruzou a minha vida naquela passagem de acesso a escada rolante para ir às comprar, disse à minha irmã para esquecer, pois não iria adotar cachorro nenhum!
Compras feitas, descendo a escada rolante qual a primeira imagem que vejo? O fofinho em pé na paredes de fio de metal me olhando fixamente. Tive que fazer uma força enorme para desviar o olhar daquele serzinho me implorando para lhe dar um lar, uma casa, um menino pra brincar, um homem para pescar junto, e uma mão para alimentá-lo e cuidar de suas feridas…
Minha irmã percebeu a química e foi direto ao pet shop comprar um pratinho, fui em direção ao cesto de metal, e de repente aquele cachorrinho lindo estava em minhas mãos. Eu o segurava por baixo dos braços, meio desajeitada, lutando contra a vontade de levar aquela criaturinha carente para casa. Foi quando uma pulga saltou direto em meu rosto, imediatamente devolvi o cachorrinho para a moça que estava fazendo seu trabalho voluntário daquele dia. Ela rapidamente colocou um comprimido na boca do bichinho e todas as pulgas sumiram.
Quando me dei conta, já estava assinando o termo de compromisso de adoção, várias exigências, dentre elas: fazer a castração.

Meu filho, com cinco anos, estava na casa de minha mãe, então, teria que passar lá para dar continuidade ao nosso dia. Assim que cheguei no portão da casa com o cachorro, meu filho aparece e simplesmente diz: 

  • Que Fofinho! – e começa a brincar deliciosamente com o cachorro.

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Meu filho vai com o marido de minha irmã para minha casa, e levam o Fofinho com eles. Eu teria que ficar para cumprir mais algumas tarefas. Quando finalmente estou indo em direção  à minha casa, na Beira Mar, meu marido liga para minha irmã, pois ele sabia que ela estaria comigo, e que provavelmente eu estaria dirigindo. Ele diz para minha irmã ao telefone:

  • Diz pra tua irmã se livrar deste cachorro, pois com estas patas enormes, ele será um cachorro enorme!!!

Chocadas, seguimos nosso caminho em direção à minha casa. O que eu iria fazer? Uma coisas eu tinha certeza, meu filho tinha adorado o cachorro, eu senti a química entre eles!

Por algum tempo, tive que cuidar do Fofinho em um rancho atrás de minha casa. O rancho já havia tido seus tempos de glória, já havíamos morado nele quando reformamos nossa casa. Também foi o lar de duas pessoas muito especiais, durante algum tempo. E o Fofinho dormia lá. Nós dois tínhamos o árduo trabalho de conquistar o dono da casa. E o Fofinho foi persistente!
Já no primeiro dia ele vomitou. Havia dias que vomitava várias vezes. 

Resolvemos então consultar um veterinário, de acordo com o resultado do exame o Fofinho tinha megaesôfago. Ou seja, tudo o que não iria para o estômago era regurgitado. Na época não havia tratamento, e a cirurgia era arriscada. Então, passamos a dar-lhe comida numa posição em que suas patas dianteiras ficassem mais altas que as traseiras, fazer o máximo possível para que a cabeça, pescoço e o restante da coluna ficassem em uma posição diagonal reta para que o máximo de comida possível passasse direto pro estômago. 

O Fofinho continuava em sua árdua luta para conquistar seu dono. Certo dia, o Fofinho estava observando a movimentação de seu objeto de desejo: viu ele pegar a tarrafa e resolveu seguir o seu dono. Viu que ele foi em direção à Lagoa, foi atrás de mansinho. Quando viu que o Marcos assumiu uma postura de ataque (um movimento peculiar que O Marcos faz quando vê um cardume de peixe, dá passos bem lentamente, evitando criar qualquer atrito para que os peixes não fujam), se preparando para lançar a tarrafa, neste momento o Fofinho deu os mesmo passos lentos. Esses passos lentos do Fofinho conquistaram o Marcos. Daquele dia em diante eles se tornaram amigos inseparáveis.

A frente de nossa casa era composta por um muro de cerca vivas, daqueles com uma cerca de metal e a planta tomando conta dela, um portão de madeira com uma caixa de correio, e exatamente na frente da parede da casa havia um jardim com plantas altas. Certo dia, vi uma movimentação diferente naquele jardim, vi o Fofinho sair de lá correndo e ir em direção ao portão e latir, para me mostrar que era o machão da rua. Mas, minha atenção estava focada na movimentação que vi no jardim, fui chegando mais perto, e quando abri o último chumaço de plantas, lá estavam elas: duas cachorras que haviam sido abandonadas na nossa rua. O Fofinho as acolheu e as trouxe para casa. Ele já estava alguns dias ali com elas, pois vi que a plantação estava bem amassada onde as duas dormiam. Sempre que eu as via, as expulsava, o Fofinho até fazia de conta que latia para elas, mas eu sabia que no fundo ele queria ajudá-las. Até que um dia soubemos da novidade: o primo do Marcos adotou as cachorras, ele adotou as duas, achei isso muito lindo. As duas eram inseparáveis, elas faziam tudo juntas, sempre andavam juntas, como se a vida não tivesse sentido se elas não estivessem juntas. Eles foram castrar as meninas, e dentro de uma delas estava cheio de Fofinhos…

Certo dia, estava subindo a rua com o Fofinho, e o vi indo em direção ao portão onde as duas estavam. Ele foi conversar com elas, percebi eles conversando:
– Bom, vocês não são livres como eu. Vocês tem que ficar presas por trás deste portão, mas pelo menos vocês tem um lar como eu tenho.

Quando a médica nos deu o diagnóstico dele, ficou subentendido que ele viveria um terço da vida normal de um cachorro, diante deste diagnóstico, automaticamente o Fofinho se tornou um cachorro livre. Ele tinha permissão para ir e vir a hora que quisesse. Construímos o muro em nossa casa, o muro tem 1,80m, pasmem, o Fofinho pulava o muro com a maior facilidade. E o melhor, ele ficava sentado em cima do muro! Parecia um galo lá. Geralmente ele acorda cedo com o dono, o Marcos abre a porta e ele vai dar o rolê dele: Vai na Vó Eliete fazer uma boquinha e fazer companhia pro Vô enquanto ele dá comida aos pássaros. Certo dia, estávamos eu e o dono indo em direção à pracinha de manhã, e o Fofinho estava voltando pelo outro lado da rua. Como não queríamos que ele nos visse, pois ele entra no supermercado quando vai conosco, combinamos de não chamá-lo, de não chamar a atenção dele. Ele estava tão concentrado que não nos viu, ele estava voltando da night, deve ter curtido bastante.

O Fofinho tem muitos amigos humanos, tem umas senhoras, que eu não conheço, que quando passam na frente de casa, ele vai correndo cumprimentá-las, a gente só ouve: Fofinho, oi Fofinho, e o Fofinho pula nelas de alegria.

Certo dia passou uma moça na frente de casa e nos disse: venham conhecer a neta de vocês: uma pitbull!!!!

Um casal  de hóspedes que ficou em casa resolveu ir fazer a trilha da Joaquina pelas dunas, o Fofinho foi junto. Na volta eles se perderam. Depois de andarem algum tempo, e realmente sentirem que estavam perdidos, resolveram seguir o Fofinho. Ele os trouxe direto pra casa. Ele estava dando sinais há algum tempo pra eles. Ia sempre para a esquerda, depois voltava. Ele não queria abandoná-los ali. Queria ir pra casa, pois já havia percebido que eles estavam perdidos, quando finalmente eles resolveram segui-lo, ele exultou de alegria e os trouxe sãos e salvos para casa. Já há muitos depoimentos sobre o Fofinho, ele está mais famoso que os donos em certas mídias.

Descobrimos que o Fofinho fala! O dono e ele batem altos papos. Geralmente, pela manhã, quando ele volta do rolê dele, ou quando o Marcos o convida para passear, ou quando estamos chegando em casa, ele emite sons como se estivesse conversando conosco.

As vezes quando saímos durante todo o final de semana e ele fica na casa da Vó, na volta, quando ele nos vê, fica correndo de um lado para o outro, loucamente, como se a alegria que ele sentisse tivesse que ser distribuída com a rápida corrida. As vezes ele simplesmente nos olha, nos cheira e não faz mais nada.

Aliana, uma hóspede muito simpática e querida, se apaixonou pelo Fofinho. Fizeram trilha juntos, conversaram, trocaram confidências. No dia da despedida, Aliana estava se despedindo do Fofinho, alguém abriu o portão, era uma nova hóspede. Logo o Fofinho abandonou a Aliana e foi confabular com a nova hóspede. Aliana ficou um pouco triste, pois estava se sentido amada pelo bichinho. Acho que o Fofinho já aprendeu a não se apegar demais com os hóspedes, pois já basta a saudade que sente dos seus donos quando viajamos.

Nossa família é composta por 4, o Fofinho está incluído nas compras, nos passeios, na arquitetura da casa.

Quando recebemos o diagnóstico de que ele viveria um terço da vida normal de um cachorro, nos comprometemos a compartilhar intensamente com ele o tempo que ele teria aqui. Hoje ele está com 13 anos. Percebo, principalmente quando ele acompanha nosso carro quando saímos de casa, ele chegava a 55km/h fácil, hoje não chega a 30km/h, que ele está ficando velhinho, agora já é um Senhor, mas o sorriso, a alegria quando é convidado para passear permanecer os mesmos. Espero te-lo conosco por muitos anos, e incrementar este documento com muitas histórias dele.

Obrigada Fofinho!