Rota da Tainha

DIÁRIO DE BORDO DE UMA “BISCRETA VÉIA” 2 – ROTA DA TAINHA

Diário de Bordo de uma “Biscreta Véia” 2

ROTA DA TAINHA

Dia 0 – 12 de junho de 2019 – Floripa para Torres de ônibus.

MINHA CAIXA MINHA VIDA

Surgiu a ideia de fazer o litoral sul de Santa Catarina de bicicleta.
Convidei alguns amigos, de 8 interessados, ficou o Osni.
Um ônibus no horário perfeito, 18h30 embarcamos as bikes devidamente encaixadas no bagageiro do ônibus com poucos passageiros.

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Uma moça na nossa frente, ficou braba porque nos conversamos muito, ela levantou e saiu para outra poltrona, deu azar o moço que estava atrás dela, roncava muito….

Uma breve parada pro lanche, nossas conversas quase nos deixaram no restaurante, os simpáticos motoristas estavam nos esperando.

O ônibus chegou exatamente as 23h, pontualidade impressionante, na verdade nosso atraso no restaurante, ajudou a cravar o horário.
Eu pensei o que faríamos com as caixas. Chegamos, tiramos as bikes, logo chegou um morador de rua e perguntou o que faríamos com as caixas, entregamos uma caixa, logo veio outro, entregamos a outra caixa, eles saíram em uma imensa felicidade, parece que ganharam a casa própria, MINHA CAIXA MINHA VIDA!!!

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Pedalamos uns 10 minutos, chegamos até a ótima pousada.

A muito se fala em Santa Catarina em uma Rodovia Interpraias, mas por muitos governos incompetentes e pela falta de desenvolvimento da região sul, atrasado pela BR 101, esse projeto nunca saiu do papel. Nossa viagem seria por esta estrada que nunca existiu.

Dia 1 – 13 de junho de 2019 – Torres para Morros do Conventos (Araranguá)
Bom café, partimos para os 2 km que pedalaríamos em terras gaúchas.
Uma bela e balançante porte pênsil separa os dois estados, mais perto da boca da barra.
Na barra, do lado catarinense, um gato com uma coleira amarrado, foi a primeira vez que vimos.

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O asfalto acaba, começa um calçamento com pedras, comum no Rio Grande do Sul, acabam as pedras vem a estrada de barro.
Em Bela Torres, um bairro, o gps nos mandou pra dentro do mato, nunca confiar somente no gps. No ginásio de esportes, decidimos por seguir pela areia da praia.
Alguns riachos pra passar, a maioria passamos pedalando, outros tirar o tênis e carregar a bike.

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Muita gente pescando, com redes feiticeiras, com três tipos de malhas.
A areia da praia parece um imã no pneu da bicicleta, gruda no chão.
Passei na televisão…

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Um grande loteamento novo, pouco antes de chegar na cidade construiu uma cabana na praia, nos deu abrigo para um lanche.

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Decidimos por abandonar a areia e entrar na estrada, não foi uma boa ideia, atolava mais que a areia.
Uma parada para almoço no Balneário Gaivota, uma bela ciclovia, mas, com poucos mais de 200 metros.
As ciclovias não são pensadas como um meio de deslocamento, de mobilidade urbana, é mais uma obra para embelezar a cidade.

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Seguimos por mais praia, praia e praia.
Por algumas vezes eu tive que caminhar, parar, foi muito difícil, os pontos críticos do corpo começam a dar sinal, palma da mão, ombro, desconforto com o tênis e o “bund’ceps”.

Contar os postos guarda-vidas de Balneário Arroio do Sul, que começou no 31, imaginei que chegar ao 1, começava Araranguá.

Na região sul, depois de Laguna, por serem praias grande e com areia firme, os pescadores usam um método peculiar de pesca, ele colocam a canoa encima de um caminhão e viajam pela praia atrás dos cardumes, passamos por um vários destes lances.

Anoiteceu, chegamos a nosso primeiro objetivo, Morro dos Conventos, município de Araranguá. A primeira hospedagem que buscamos estava fechada, dormimos em um hotel que já foi referência em Santa Catarina na década de 1980, uma piscina térmica foi o relax que precisávamos.
Osni estava bem, com os treinos em dia, eu não, achei que não conseguiria, mas seguir adiante era a meta.
Para os que não suportariam ver a bike na areia da praia, é possível fazer todo o trecho pela estrada.

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Foram 60 km e 450 metros no primeiro dia.

Dia 2 – 14 de junho de 2019 – Morros do Conventos – Laguna

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Na verdade o objetivo era chegar em Ibiraquéra, mas nas condições que eu estava, deixamos pra ver onde vamos conseguir chegar.
Descida do hotel até a entrada em uma estrada rural, que nos levou a balsa que cruza o Rio Araranguá. Dois cachorros atravessam a balsa, são passageiros frequentes.

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Bicicletas não pagam pra passar, carros custam 8 reais, a viagem dura 2 minutos.
Os carros entram a esquerda, nós decidimos seguir na direção noroeste, seguindo o curso do Rio Araranguá. Passamos pela comunidade de Ilhas, ahi, o mundo acabou!
A estrada foi de transformando em uma trilha de areia, impossível pedalar.
Avistamos uma pessoa pedalando na beira do rio, decidimos fazer o mesmo.

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A margem leste estava repleta de galhos e muitos plásticos, hora boa de juntar um grupo para recolher os plásticos. Seguimos pela margem até o rio, cheio pela maré, nos espremer contra o pequeno barranco.

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Voltamos a trilha marcada por pneus de carros 4×4, uma parte com areia firme pela vegetação, não por muito tempo.

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Chegamos a uma localidade chamada Barra Velha, onde o mundo acabou de novo, um lamaçal que eu atravessei, por estar com havaianas, Osni decidiu voltar e pegar a praia.
A um senhor, dono da primeira casa, eu perguntei, já passou alguém de bicicleta por aqui, ele respondeu:
– NÃO, SÓ CAVALO…..

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cavalo

Passei por algumas casas, a maioria com carros adaptados para a lama.
Segui o rumo da praia pra encontrar com o Osni, triste ver um deposito de lixo, no meio das dunas.
Cheguei na praia, no exato momento que o Osni chegava.
Seguimos, muitos pescadores, aos poucos os galhos arrastados pelo rio, ficavam pra traz.
Uma moça usava uma arma na praia para caçar, catar, eu perguntei:
–  A SENHORA ESTA PEGANDO CORRUPTOS?
Ela respondeu:
– NÃO, É BICHA!!!

(corrupto e bicha são aminais marinhos que vivem na areia na beira do mar)

Chegamos ao Balneário Rincão, um lanche em um posto guarda-vidas, foi nosso almoço.
Entramos na cidade, retornamos a interpraias, barro ao meio dia, sol escaldante, eu com muito pouca agua, pequenos goles e muito bochecho era a técnica para ter uma sensação de ter tomado muita agua, ao mesmo tempo economizando.
Na localidade de Torneiros, perguntamos a um senhor se tinha algum lugar pra comprar agua, ele disse:
– A VENDA DE TORNEIROS SÓ AS 14 HORAS!!!!

Eu estava fraco, os Osni seguiu na frente, eu podia acompanha-lo vendo as marcas incomuns dos pneus da bike dele, liso no meio e garra nas laterais.

De longe vi um homem dando agua para os bezerros, imediatamente parei e pedi um pouco de agua, se ele me desse a mesma agua dos bezerros, eu já ficaria agradecido, ele gentilmente me deu uma garrafa fechada de agua mineral.
A família dele tinha uma pequena propriedade onde plantavam mandioca, fumo e algumas cabeças de gado de leite. Perguntei de a plantação de fumo tinha diminuído, ele disse que muito, perguntei se ele poderia parar de plantar fumo, ele disse que poderia parar.
– E SE UMA PRAGA ACABASSE IMEDIATAMENTE COM TODAS AS PLANTAÇÕES DE FUMO!!!

Chegamos ao asfalto, uma longa e suave descida de asfalto até o Balneário Esplanada.
Seguimos pelo pequenos balneário, bem no fim, um loteamento que parecia invasão,
casa proprietário\invasor, coloca seu nome, acontece que cada lote tem mais de um nome…
Chegamos ao Balneário Arroio Corrente e logo a casa dos amigos Claudio e Rosemary.

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Eles nos receberam com honras de chefe de estado, estado de acabados estávamos….
Agua geladinha, torta de maça, foram preciosos minutos de recuperação e abastecimento.

Seguimos viagem com o lindo por- do- sol na Lagoa do Arrio Corrente.
A direita a rodovia dos cachorros, como comentou Rosemary, e era, mais de 20 cachorros nos fizeram inocentes ameaças de au, au, au…

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Chegamos ao desejado trecho de asfalto, já de noite, pela desconhecida Garopaba do Sul, escutei dois homens conversando:
– MAIS TARDE NOS VAMOS LÁ NÉ?
– SIM VAMOS, respondeu o outro.
– MAS DEPOIS DA NOVELA NÉ? Rapidamente corrigiu o primeiro…

A descida pelo acostamento no nível da pista era uma maravilha, mas a frente a estrada encolhe e o acostamento vida uma calçada sem rampas.

Deixamos mais um município pra traz, Jaguaruna, chegamos a Barra do Camacho,
onde naufragou o Capitanea, de Guiseppe Garibaldi em 1839.
Escuro e ciclovia, nos conduzia, ao longe a luz do farol de Santa Marta.
Para fugirmos da “lady smurf”, aceleramos, na medida do possível, deu certo, pegamos a balsa quase saindo.
Dessa vez a viagem durou uns 10 minutos e custou R$ 2,25 por cada bicicleta.
Passamos pelo importante monumento do Tratado de Tordesilhas, equivocadamente posicionado em uma rotula, impedindo que as pessoas o visitem.
Uma lagoa em volta motivada por um hidrante aberto…

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Na avenida do bairro Mar Grosso, um comercio nos chamou a atenção, o Beef Market, Osni pensou que era uma loja de carnes, mas, pela “boniteza” vi que não era.
A dona, Marta, sensível a nossa causa, nos deixou colocar a bike dentro da loja.

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Pedimos dois hambúrgueres, para que cada um provasse a metade de cada.
Estava excelente!
O simpático garçon, disse que fumar desde os 13 anos, atrapalhava muito a vida, mas que ele gostaria de parar, conversamos sobre o assunto, o recado ficou em forma de duas palavras magicas para parar de fumar:
– QUERER E TENTAR!!!!

O hotel mais antigo de lagoa era nosso destino, como o de Morro dos Conventos, dos tempos que os balneários mais famosos do sul do Brasil eram Morros dos Conventos e Laguna.

Foram 80 km, mas eu cheguei menos pior que no dia anterior.

Dia 3 – 15 de junho de 2019 – Laguna – Garopaba

Antes de seguir viagem passamos nos molhes da Laguna, ver o consorcio entre golfinhos e pescadores.
O Marlon, disse que “A QUADRA ESTAVA VELHA”, tinha que renovar.
Quadra = Sistema climatico, tinha que mudar o vento para acontecer algo novo, frio ou chuva,
para aproximar as tainhas na praia.

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” O CAPETA COM CONCIENCIA ECOLÓGICA E SOLITADIO”

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O Osni comprou agua do senhor vendia a bebida capeta, eu perguntei se eles faziam reciclagem de plasticos em Laguna,
ele disse que fazem reciclagem e as tampinhas vão para a APAE.

Excelente café da manhã, destaque para a torta salgada. Praia do Gi pela estrada, no final lama, tive que passar com a bike no mato pra não sujar o tênis.
Um carro que segiu pela estrada, voltou por falta de condições, nos decidimos por voltar para a areia da praia.
Logo no começo um riozinho foi nosso obstáculo, ultrapassado mais uma vez com a bike nas costas.
O desanimo, e o cansaço bateram forte, enquanto o Osni, como uma tatuíra acelerava praia a fora, eu fiquei pra traz, caminhei empurrando a bike. De longe eu vi o Osni sumir nas brumas de salitre.
Chegamos a Itapirubá, comunidade que tem duas praias a sul, pertencente a Laguna e a norte, a Imbituba, sofrem os moradores do meio que estão na divisa dos dois municípios, alguns cobrados pelas duas prefeitura o IPTU. Em Itapirubá fica a sede do Projeto Baleia Franca.
Mais um pedaço de praia, Osni mais uma vez mostra habilidades praianas, eu, desesperado por sair da praia, quando vi o primeiro telhado, entrei, uma trilha bem apertada, cercada por duas cercas de arame farpado, ou cabia eu ou a bike, no fim, lama!
Cheguei a um bairro, fiquei a poucos metros da BR 101.
Cruzei um trilho de trem, estava no bairro Vila Nova, chegando rápido ao centro de Imbituba, onde o Osni já estava a algum tempo.
Minha bicicleta estava mau, com o aro traseiro bem torto, nesse momento pensei em abandonar a jornada, mas seguimos…

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Praia da ribanceira e logo chegamos a Ibiraquera. Portas fechada nem sempre são uma notícia ruim, após três pousadas fechada chegamos a boca da barra.
De longe vimos uma moça passar a boca da barra com uma bike, com mais o belo por do sol deu ânimo pra continuar, falei pro Osni para tentarmos chegar a Garopaba.
O calsa se interessou pela rota, querem fazer também.

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Praia do Luz, foi nossa descolada do mar, rumamos, escureceu.
Uma loja e moto, Baixinho Motos, o baixinho, nem tão baixinho assim, estava chegando de uma trilha de moto. Lembrei que a chave de aro poderia ser a mesma, para moto e bike.
Bati na porta, ele prontamente atendeu, disse que a peça não era a mesma, mas, ele nem sabendo porque, mas tem uma chave de bike.
Problema resolvido em 90%, segui viagem, antes de chegar ao hotel, não resistimos a um rodizio de pizza a R$ 19,90….

Mais 70 km pra conta.

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Dia 4 – 15 de junho de 2019 – Garopaba – Florianópolis

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O hotel mais antigo de Garopaba, essa foi sem querer a viagem dos hotéis antigos.
Café da manhã “arregrado”, nos preparando para atacar, tentar chegar a Floripa.
Para encurtar, o primeiro pequeno trecho de praia, uma larga ciclovia até o Siriú nos surpreendeu, fizemos o 5 km mais rápido de toda a viagem.
A estrada esta sendo asfaltada, em algum momento tivemos que passar por dentro do quintal de uma casa pra passar uma grande buraco na estrada.

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Em maio de 2022, o morro do Siriú estará asfaltado.

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Na descida a primeira visão da Ilha de Santa Catarina (Florianópolis), bela visão da baixada do Maciambú.

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Vista da Lagoa do Coração.

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Descemos, passamos pelo Município de Paulo Lopes, conhecido como 3º Polo do Mundo.
Parada estratégica no mini mercado da Dona Rose, filha do seu Didi, nos atendeu com um largo sorriso.
para fugir da BR 101, pegamos a estrada da Sorocaba, até chegar na entrada obrigatória da Br. Pedalamos 1 km na contra mão até o retorno, depois mais 2 km, com a impressionante vento dos caminhões fazendo a bike andar muito mais.
Logo após a ponte que divide Paulo Lopes de Palhoça, saímos da BR, pegamos uma bela estrada que serpenteia o Rio da Madre, mais uma vez a força acabou, hora de parar para um lanche.
Uma pausa é mais importante que andar devagar, uma sombra de uma porteira, ajudou a refrescar.
Morretes, um retão de barrão, eu acelerei, me deu um gás, acho que foi a paçoca, acelerei cada vez mais, só parei as margens da BR.
Uma ciclovia passa despercebida, mais um pequeno trecho de 500 metros de BR até a ponte sobre o Rio Maciambú, atravessamos, passamos a porte na contra mão.

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Passamos a bike pro lado de dentro do guard rail, uma trilha estreita com 8 passarelas mal feitas, buracos, mas chegamos no topo, na aldeia indígena.
Uma moça indígena com uma sacola, refrigerante e salgadinho, triste…

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Descemos os 300 metros obrigatórios de Br, os demais podem ser trocados.
Era o pior trecho, sem acostamento, logo chega a entrada para a Enseada do Brito, como eu estava sem agua, fui até na praça, na casa do historiador Penhinha, penar por um copo de agua gelada, pena, o Peninha não teve pena e partiu antes de eu chegar já sem penas…

“Pararepipedei” na bela e histórica Enseada, logo vem a Praia de Fora e o Pontal, após o Furadinho, mais 300 metros de BR, na marginal, ali marginalizada uma ciclovia.
Ufa, chegamos em Palhoça! O Osni foi relembrando as cada dos familiares onde ele passou algum tempo da vida.

Logo chega São José, a Beira Mar, lotada, começou a dar pavor de multidão, era gente entrando e saindo de todos os lados, acelerei pra fugir, depois de 4 dias solitário.

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Chega Floripa, passamos a ponte, Beira Mar, despedida, subi o morro da Lagoa, a lua cheia se espelhava na lagoa, a bela lagoa!

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“CHEGUEMO”!!!

Obrigado aos amigos que acompanharam ao vivo!!!

Obrigado pela parceria e pela amizade Osni!!!

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